sábado, 1 de junho de 2013

A Guerra de Tróia

     Seja qual for a base histórica, a guerra de Tróia é o episódio isolado mais importante, ou complexo de episódios, que sobreviveram na mitologia e nas lendas gregas. Os eventos que causaram a guerra e aqueles que se seguiram estão combinados num grupo de estórias conhecidas como o Ciclo Troiano: algumas são conhecidas a partir dos dois grandes poemas Homéricos, a Ilíada e a Odisséia, mas outras partes da estória devem ser reunidas de numerosas outras fontes, indo desde os dramaturgos gregos do século V a.C., até autores romanos mais recentes.


     Um dos primeiros elos da cadeia de eventos que formaram o prelúdio da guerra de Tróia foi forjado por Prometeu, o grande benfeitor da humanidade. Prometeu, um primo de Zeus, tinha dado o fogo aos homens, um elemento cujos benefícios tinham tão-somente sido desfrutados pelos deuses. Tinha também ensinado os homens para oferecer aos deuses apenas a gordura e os ossos em sacrifícios de animais, mantendo as melhores partes para eles próprios. Para punir Prometeu, Zeus o acorrentou num alto penhasco nas montanhas e diariamente enviava uma águia para comer seu fígado, o qual voltava a crescer à noite.



     Prometeu acabou sendo libertado por Hércules, mas outras dizem que foi libertado por Zeus, quando finalmente concordou em contar-lhe um importante segredo. Este segredo relacionava-se à ninfa do mar Tétis, que era tão bela que contava com vários deuses entre seus admiradores, incluindo Poseídon e o próprio Zeus; entretanto uma profecia conhecida apenas por Prometeu predisse que o filho de Tétis estava destinado a ser mais importante que seu pai. Ao saber disso, Zeus rapidamente abandonou a ideia de ser o pai de um filho de Tétis, decidindo, ao invés, que deveria se casar com o mortal Peleu; o filho nascido deles seria Aquiles, o maior dos heróis gregos em Tróia.

     Tétis inicialmente resistiu aos avanços de Peleu, assumindo a forma de fogo, serpentes, monstros e outras formas, mas ele a segurava fortemente apesar de todas as suas transformações, acabando por se submeter. Todos os deuses e deusas do Olimpo, menos uma, foram convidados para o magnífico casamento de Peleu e Tétis; no meio da festa, Éris, a única deusa que não tinha sido convidada, entrou abruptamente no local e atirou entre os convidados o Pomo da Discórdia, com a inscrição "a mais formosa". Esta maça foi requisitada por três deusas, Hera, Atena e Afrodite. Como elas não conseguiram chegar a um acordo, e Zeus estava compreensivelmente relutante em resolver a disputa, enviou as deusas para terem suas belezas julgadas pelo pastor Páris, no Monte Ida, fora da cidade de Tróia, na orla oriental do Mediterrâneo.


     Páris era filho de Príamo, rei de Tróia, mas quando a esposa de Príamo, Hécuba, estava grávida de Páris, sonhou que estava dando à luz a uma tocha donde surgiam serpentes sibilantes, assim, quando o bebê nasceu, foi entregue a uma criada com ordens de levá-lo ao Monte Ida e matá-lo. A criada, entretanto, ao invés de matá-lo, simplesmente o deixou na montanha para morrer; ele foi salvo por pastores, sendo criado para também se transformar em um deles. Enquanto Páris estava vigiando seu rebanho, Hermes levou as três deusas para que as julgasse. Cada uma ofereceu uma recompensa se fosse a escolhida; Hera ofereceu riqueza e poder, Atena ofereceu habilidade militar e sabedoria e Afrodite ofereceu o amor da mais bela mulher do mundo. Conferindo a vitória a Afrodite, acabou incorrendo na ira das outras duas, as quais se tornaram daí para a frente inimigas implacáveis de Tróia. Logo depois, Páris retornou por acaso a Tróia, onde sua habilidade nas competições atléticas e sua surpreendente bela aparência causaram interesse nos seus pais, que rapidamente estabeleceram sua identidade e o receberam de volta com entusiasmo.

     A mais bela mulher do mundo era Helena, a filha de Zeus e Leda. Muitos reis e nobres desejaram desposá-la, e antes que seu pai mortal, Tíndaro, anunciasse o nome do feliz escolhido, fez todos jurarem respeitar a escolha de Helena e virem em ajuda de seu marido se fosse raptada. Helena casou com Menelau, rei de Esparta, e na época que Páris veio visitá-los tinham uma filha, Hermíone. Menelau recebeu Páris muito bem em sua casa, mas Páris pagou esta hospitalidade raptando Helena e fugindo com ela de volta a Tróia. A participação de Helena nesta situação é explicada de diferentes maneiras nas várias fontes: foi raptada contra a sua vontade, ou Afrodite deixou-a louca de desejo por Páris ou, a mais elaborada de todas, nunca foi para Tróia, e foi por causa de um fantasma que os gregos gastaram dez longos anos em guerra.

     Menelau convocou todos os outros pretendentes anteriores de Helena, e todos os outros reis e nobres da Grécia, para ajudá-lo a montar uma expedição contra Tróia, de modo a recobrar sua esposa. O líder da força grega era Agamenon, rei de Micenas e irmão mais velho de Menelau. Os heróis gregos afluíram de todos os cantos do continente e das ilhas para o porto de Áulis, o ponto de reunião a partir do qual planejavam velejar através do Egeu até Tróia. Suas origens e os nomes de seus líderes estão listados no grande Catálogo de Navios próximo ao início da Ilíada.



     Alguns dos heróis viera a Áulis mais facilmente do que outros. Ulisses, rei de Ítaca, conhecia a profecia que se fosse a Tróia não retornaria por vinte anos, e então fingiu loucura quando o mensageiro Palamedes chegou para convocá-lo, atrelando duas mulas a um arado e movendo-as para cima e para baixo na praia; mas a farsa de Ulisses foi revelada quando Palamedes colocou o filho pequeno de Ulisses, Telêmaco, na frente das mulas, e Ulisses imediatamente voltou ao normal. Os pais de Aquiles, Peleu e Tétis, estavam relutantes em deixar seu jovem filho se juntar à expedição, pois eles sabiam estar predestinado que se fosse morreria em Tróia. Numa tentativa de evitar o destino, o enviaram para Ciros, onde, disfarçado como uma moça, se juntou às filhas do rei, Licomedes. Durante esta estada se casou com uma das filhas, Deidaméia, que lhe deu um filho, Neoptólemo.

     A grande força grega, cujos maiores heróis eram Agamenon, Menelau, Ulisses, Ájax, Diomedes e Aquiles, estava pronta para partir, mas o vento teimosamente ficou contra eles. Eventualmente, o profeta Calcas revelou que a deusa Ártemis exigia o sacrifício da filha de Agamenon, Ifigênia, antes que o vento mudasse. Agamenon ficou horrorizado pela profecia, mas a opinião pública o obrigou a obedecer: Ifigênia, chamada sob o pretexto de casar com Aquiles, foi, ao contrário, morta sobre o altar. Algumas fontes dizem que Ártemis ficou com pena dela no último momento e a substituiu por um cervo; de qualquer maneira, o vento mudou de direção e os barcos zarparam.



     A estória da Ilíada é, então, a estória de Aquiles, e sua disputa com Agamenon. Ao início da Ilíada os gregos já estavam em Tróia por nove anos. Eles tinham saqueado uma grande parte dos campos ao redor e tinham escaramuças esporádicas com quaisquer troianos que saíssem de trás de suas maciças fortificações. Os gregos estavam ficando cansados da campanha e irritados por sua falta de habilidade em conseguir uma vitória decisiva sobre a própria Tróia, quando Aquiles se desentendeu com Agamenon sobre um assunto de honra.

     Agamenon, como parte do saque de um ataque o qual Aquiles desempenhou a parte principal, recebeu uma moça chamada Criseida, filha de Crisos, sacerdote de Apolo. Crisos ofereceu a Agamenon um bom resgate para a libertação da moça, porém Agamenon se recusou a libertá-la. Assim Crisos orou a Apolo, que mandou uma praga sobre o acampamento grego, e o profeta Calcas revelou que esta seria retirada apenas se Agamenon devolvesse Criseida. Aquiles estava completamente a favor de fazer isso, mas Agamenon estava relutante. Eles discutiram, e Agamenon acabou por concordar a fazer o que estava sendo ordenado, mas para reafirmar sua autoridade sobre Aquiles da maneira mais insultuosa que podia, e simultaneamente compensar-se pela perda de Criseida (a qual ele declarou preferir à sua própria esposa Clitemnestra), tomou Aquiles sua escrava, Briseida. Aquiles ficou justificadamente enraivecido.

     Não apenas foi um insulto à sua honra, mas também foi grandemente injusto, pois ele, Aquiles, tinha conduzido a maior parte da luta necessária a produzir os tesouros e o saque que Agamenon considerava no direito de usufruir. Assim, Aquiles se retirou para sua tenda, e não tomou mais parte nos combates ou nas reuniões do conselho. A luta se tornou mais dura, com ataques mais diretos feitos a Tróia e aos troianos. Mas os gregos estavam numa situação difícil sem seu maior guerreiro, e mesmo Agamenon tentou fazer contatos com Aquiles, oferecendo-lhe riquezas de todos os tipos, justamente com a devolução de Briseida. Aquiles, entretanto, rejeitou todos os apelos, declarando mesmo que se as ofertas de Agamenon fossem "tantas como os grãos de areia ou as partículas de pó" nunca se curvaria.



     Nesta ocasião, Ulisses e Diomedes empreenderam uma expedição noturna para espionar os troianos. Não sabendo disso, um troiano de nome Dolon estava tentando fazer a mesma coisa: os gregos o surpreenderam e o forçaram a contar as disposições do acampamento troiano. Seguindo sua orientação, terminaram sua expedição noturna com um ataque ao acampamento de Reso, rei da Trácia, em cujos belos cavalos escaparam de volta para o acampamento grego.

     Apesar do sucesso desta temerária ação, o geral da luta os gregos estavam sendo empurrados de volta a seus navios pelos troianos e estavam ficando desesperados, quando o amigo de Aquiles, Pátroclo, veio até ele e rogou a permissão de liderar as tropas de Aquiles, os Mirmidões, em batalha. Pediu também se poderia emprestar a armadura de Aquiles, de modo a espalhar o terror nas linhas troianas, que poderiam tomá-lo por Aquiles. Aquiles concordou, e Pátroclo foi e lutou longa e gloriosamente, antes de, previsivelmente, ser morto por Heitor, filho de Príamo e o melhor guerreiro do lado troiano.



     Aquiles foi tomado pela dor. Sua mãe, a ninfa do mar Tétis, veio até ele e prometeu-lhe uma nova armadura para substituir a que tinha sido perdida com Pátroclo. A nova armadura, feita pelo deus-ferreiro Hefesto, incluía um bonito escudo coberto com cenas figuradas, cidades em guerra e em paz, cenas da vida rural com rebanhos, pastores e danças rústicas, e ao redor da borda do escudo corria o Rio de Oceano. Aquiles e Agamenon se reconciliaram e Aquiles retornou ao campo de batalha, onde matou um troiano após outro com sua lança "como um vento impetuoso que revolve as chamas, quando um incêndio grassa nas ravinas das bases secas pelo sol das montanhas, e a grande floresta é consumida". Após ter matado muitos troianos e sobreviventes mesmo ao ataque do Rio Escamandro, o qual tentou afogá-lo nas suas grandes ondas, Aquiles estava finalmente pronto a enfrentar seu principal adversário, Heitor.



     O restante dos troianos tinha fugido da matança de Aquiles e buscado refúgio atrás de suas muralhas, mas Heitor permaneceu fora dos portões, deliberadamente esperando pelo duelo que sabia ter que enfrentar. Mas quando Aquiles finalmente surgiu, Heitor foi tomado de compreensível terror e virou-se para fugir. Percorreram três voltas ao redor das muralhas de Tróia antes que Heitor parasse e destemidamente enfrentasse seu bravo oponente. A lança de Aquiles alojou-se na garganta de Heitor, caindo este ao chão. Mal podendo falar, Heitor pediu a Aquiles que permitisse que seu corpo fosse resgatado após sua morte, mas Aquiles, furioso com o homem que tinha morto Pátroclo, negou seu apelo e começou a sujeitar seu corpo a grandes indignidades. Primeiro o arrastou pelos calcanhares atrás de sua carruagem, ao redor das muralhas da cidade, para que toda Tróia pudesse ver. A seguir levou o corpo de volta ao acampamento grego, onde este ficou jogado sem cuidados em suas choupanas.



     Aquiles preparou então um elaborado funeral para Pátroclo. Uma grande pira foi construída; sobre ela várias ovelhas e bois foram sacrificados e suas carcaças empilhadas ao lado do corpo do herói morto. Jarros de mel e óleo foram adicionados à pira, a seguir quatro cavalos e dois dos cachorros de Pátroclo. Doze prisioneiros troianos mortos sobre a pira, a qual então foi deixada acesa. Ardeu toda a noite, e durante toda a noite Aquiles colocou libações com vinho e pranteou Pátroclo bem alto. Nos dia seguinte os ossos de Pátroclo foram coletados e colocados numa urna dourada, e um grande monte foi erguido no local da pira. Jogos funerários com prêmios magníficos foram feitos, com competições entre carruagens, luta de boxe, pugilato, corridas, lutas armadas, arremesso do disco e tiros com arco e flecha. E todo o dia ao amanhecer, por doze dias. Aquiles arrastou o corpo de Heitor três vezes ao redor do monte, até que mesmo os deuses, que tinham previsto e arranjado tudo isso, ficaram chocados; Zeus enviou Íris, mensageiro dos deuses, para Tróia em visita a Príamo e o instruiu a ir secretamente ao acampamento troiano com um bom resgate, que Aquiles aceitaria em troca da libertação do corpo do filho de Príamo.



     Assim Príamo, escoltado por um simples mensageiro, se dirigiu ao acampamento grego, sendo encontrado ao escurecer, quando se aproximava dos navios gregos, por Hermes disfarçado como um seguidor de Aquiles. Hermes guiou Príamo pelo acampamento grego, de modo que chegou sem ser percebido à tenda de Aquiles. Príamo entrou diretamente e jogou-se aos pés de Aquiles: ele pediu que o herói pensasse no seu próprio pai Peleu e tivesse mercê com um pai que tinha perdido tantos de seus bons filhos nas mãos dos gregos; pediu que fosse permitido levar o corpo de seu maior filho de volta a Tróia com ele, de modo que pudesse ser adequadamente pranteado e enterrado pelos seus parentes. Aquiles ficou tocado pelo apelo; choraram juntos, e o pedido de Príamo foi aceito. Assim, o corpo de Heitor foi devolvido a Tróia, onde foi velado e sepultado com os ritos adequados.

     Assim Príamo, escoltado por um simples mensageiro, se dirigiu ao acampamento grego, sendo encontrado ao escurecer, quando se aproximava dos navios gregos, por Hermes disfarçado como um seguidor de Aquiles. Hermes guiou Príamo pelo acampamento grego, de modo que chegou sem ser percebido à tenda de Aquiles. Príamo entrou diretamente e jogou-se aos pés de Aquiles: ele pediu que o herói pensasse no seu próprio pai Peleu e tivesse mercê com um pai que tinha perdido tantos de seus bons filhos nas mãos dos gregos; pediu que fosse permitido levar o corpo de seu maior filho de volta a Tróia com ele, de modo que pudesse ser adequadamente pranteado e enterrado pelos seus parentes. Aquiles ficou tocado pelo apelo; choraram juntos, e o pedido de Príamo foi aceito. Assim, o corpo de Heitor foi devolvido a Tróia, onde foi velado e sepultado com os ritos adequados.



     Após a morte de Heitor, uma grande número de aliados vieram auxiliar os troianos, incluindo as Amazonas com sua rainha, Pentesiléia, e os Etíopes liderados por Mêmnon, um filho de Éos, deusa da aurora. Tanto Pentesiléia como Mêmnon foram mortos por Aquiles. Mas Aquiles sempre soube que estava destinado a morrer em Tróia, longe de sua terra natal, onde acabou sendo morto por uma flecha, lançada pelo arco de Páris.

     A mãe de Aquiles, Tétis, quis tornar seu filho imortal, e, quando este era ainda um bebê, levou-o ao Mundo Inferior e o imergiu nas águas do rio Estige; isto tornou seu corpo imune aos ferimentos, exceto pelo calcanhar, o qual ela utilizou para segurá-lo, sendo lá que a flecha o acertou.

     A cidade foi tomada graças ao artifício concebido por Ulisses: fingindo terem desistido da guerra, os gregos embarcaram em seus navios, deixando na praia um enorme cavalo de madeira, que os troianos decidiram levar para o interior de sua cidade, como símbolo de sua vitória, apesar das advertências de Cassandra.

     À noite, quando todos dormiam, os soldados gregos, que se escondiam dentro da estrutura oca de madeira do cavalo, saíram e abriram os portões para que todo o exército (cujos navios haviam retornado, secretamente, à praia), invadisse a cidade.

     Apanhados de surpresa, os troianos foram vencidos e a cidade incendiada. As mulheres (inclusive a rainha Hécuba, a princesa Cassandra e Andrômaca, viúva de Heitor) foram escravizadas. O rei Príamo e a maioria dos homens foram mortos (um dos poucos sobreviventes foi Eneias, príncipe de Lirnesso que fugiu de Troia carregado seu pai Anchises, já idoso, sobre os ombros).



     E assim, Menelau recuperou sua esposa, Helena (tendo matado Dêifobo, com quem ela se casara, após a morte de Páris), e levou-a de volta a Esparta. Agamênon foi morto por sua esposa que lhe roubou o trono e Odisseu como profetizado passou com o fim da guerra (que durou dez anos) mais dez anos vagando pelo mar, até chegar a Ítaca vestido de mendigo para provar a fidelidade de Penélope, sua esposa, que estava cheia de pretendentes ao casamento e consequentemente ao trono, porem ela os enganara durante 20 anos até o retorno de seu marido que ao descobrir tudo o que se passou em sua ausência, matou seus inimigos com a ajuda de seu filho.


     "Presente de Grego"



Quem nunca ouviu essa expressão?
é a mitologia grega presente ate em expressões em diversas gerações.



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